sexta-feira, 27 de junho de 2008

As Hawaianas

Mas bah tchê! Ganhar umas hawaianas na década de 60 era coisa chique! Que diga o Jorginho!

A turma resolveu jogar futebol. Pegamos alguns galhos de árvores, fizemos as goleiras e com as sobras fechamos a rua. Não passava mais carro no nosso campo de futebol. E começamos o jogo com todas as meninas da quadra nos olhando. Éramos os craques do futuro, dando uma palinha no meio da rua.
Não me lembro quanto tava o jogo. Lembro apena da sirene da Rural e do Opala da Brigada Militar. Naquela época tinha pouco ladrão e a brigada ficava pegando menor que jogava bola na calçada ou no meio da rua. Aliás nem era brigada! Eram os Pedro Paulo, com capacete branco e cara de idiota.
Chegaram com a sirene aberta e foi uma correria daquelas. Fugiu gente prá todo o lado. Dei azar de fugir com o Jorginho, que no meio da correria para a praça se lembrou das Hawaianas novas que deixara do lado da goleira!
E aí, amigo é prá essas coisas voltamos os dois para buscar as tais das Hawainas. Reconhecidos pela lei, fomos presos. ( Nossa primeira prisão).
Temendo por nosso futuro, ainda tivemos coragem de pedir para o chefe dos Pedro e Paulo se dava pelo menos para nos levar de Opala e não na Rural!
Mas preso não tem direito, ao menos naquela época não tinha e fomos mesmo de Rural, cercados por três Pedro e Paulo com caras de pouco amigos.
Na delegacia, nos mandaram para o fórun, Éramos menores "delinquentes"! E aí fomos conhecer o juizado de menores da cidade.
Na porta! Seu Marcelino, pai do Jorginho. Avisado que fora por dona Eponina, nos aguarda com cara de poucos amigos e foi nos levando pelo braço xingando até defronte o juiz!
Lá estava meio time! Até meu primo de Brasília que era reserva tinha sido preso porque estava no banco. Não jogava, mas era cúmplice ! Que coisa heim? Bem, continuava no banco, agora da cadeia!
Escutamos um discurso do Juiz, o qual tentava de todas maneiras nos colocar no bom caminho e nos alertava sobre a marginalidade e a delinquência. Nos falou então da dona Gertrudes, nossa vizinha que havia feito a denúncia e que pedia providências sobre os delinquentes da rua, nós. Ve se pode!!!
Com a bunda doendo de ficar 4 horas no banco do juizado, fomos finalmente libertados pelo aval do seu Marcelino, que voltará mais tarde para falar novamente com o juiz.
Tivemos que voltar a pé! Nem Rural e nem Opala. Mas o Jorginho estava feliz, pois havia recuperado as suas Hawaianas...
No trajeto de vota! Os delinquentes arquitetavam uma vingança contra dona Gertrudes!
Isto jé eram umas 11 horas da noite.
Chegando na quadra, fomos até o armazém do pai do "Tens". O Tens era um cara legal que fumava cigarro Minister, mas nunca comprava e nem pegava na venda do pai! Olhava o pessoal da turma de longe e gritava "Tens"? Fazendo o clássico sinal de um cigarro entre os dois dedos.
Pegamos uma lata de banha. Daquelas de 40 litros. Enchemos de água com sabão em pó e a apoiamos na porta da casa da Dona Gertrudes, de forma que quando abrisse a porta a lata derrama-se nos seus pés toda a água. Colamos um esparadrapo na campainha e saimos em desabalada carreira, desta vez sem esquecer as Hawaianas.
Não sabemos o que aconteceu, mas eu imagino até hoje como ela xingou os delinquentes da quadra....

domingo, 22 de junho de 2008

Sem...

As férias acabaram...
Voltamos para casa. A rua, a quadra, a turma. Todos estavm lá de volta!
As novidades vinham do Tatuí. Havia ganho uma bicicleta "Monareta"nova.
Na quadra a novidade, eram as filhas do Ibirá. 3 morenas e uma loira que tiravam o folego da gurizada.
E lá estava o Tatuí de bicicleta a se exibir para elas...
Nós, sentados no muro. Ficavamos a tudo olhavando morrendo de inveja.
E lá vinha o Tatuí de monareta! zum e zum prá lá e prá cá.
Como um galanteador moderno. Ele andava montado em sua gloriosa bicliceta, e começou a mostrar suas habilidades andando de forma impetuosa na calçada.
Por entre as pessoas e os postes corria ele de forma a se mostrar cada vez mais.
Nós de um lado da rua e ele no outro. Passando na frente da casa das filhas do Ibirá.
As meninas na janela, admiravam a sua destreza.
Provocativo, ainda nos olhava e gritava!
Olhem só; sem uma mão... zum e zum prá lá e prá cá.
Olhem só; sem um pé e sem uma mão ... zum e zum prá lá e prá cá.
E nós morrendo de inveja.
Rogando praga!!!!
As meninas olhavam o novo "super herói"da quadra. Não tinham nem tempo de nos enxergarem.
E lá ia e vinha o Tatuí. E sempre gritando, com sua potente voz.
E aí gurizada...

Olhem só; sem uma mão... zum e zum prá lá e prá cá.
Olhem só; sem um pé e sem uma mão... zum e zum prá lá e prá cá.
Olhem só; sem as duas mãos.....
Olhem só; sem as duas mãos e um pé.....
BRBGERYSFJTYUGSDFJ@#@#@&&*&%^&!!!!!
No outro dia éramos nós que gritavamos
Olha só; lá vem ele, sem a monareta e sem os dentes...

hihihihiihihihihihi

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Pequena história acidentada...

Tinha lá eu, cerca de 10 ou 11 anos, quando tive minha primeira experiência de racismo.
Papai e mamãe foram viajar, e nós fomos ficar na vila com vovó.
Todos faceiros com revolveres de metal e cinturões de plástico, fomos para a vila brincar de mocinho e bandido.
Montados em nossos cavalos puro sangue de cabo de vassoura, troteando pela rua, logo avistamos um grupo.
Um menino e três meninas, nos olhavam curiosos.
Na esquina, preto que nem tição estava Pelé.
Pelé era nosso vizinho e era metido a goleiro de futebol. Seu tio, Jorge era o goleiro do time da vila. Meio frangueiro, mas era o dono da bola e portanto, jogava na posição que queria. Queria ser goleiro!
Ficou goleiro!
Pelé nos viu faceiros e pediu para entrar na brincadeira!
Tivemos que deixar, pois afinal trazia com eles suas três amigas loiras e sardentas que moravam ao lado da sua casa, e que todos dos dias espiávamos nas frestas da cerca de bambu, brincando de boneca.
Éramos quatro. Roy Rogers, Tim Dale, Zorro e Tonto. Todos heróis e o Pelé, seria o que?
Muita conversa jogada fora e Pelé foi escolhido como Búfalo Sentado! Bem, me explico. Preto tinha que ser Búfalo, afinal só conheciamos Touro Zebu que era branco ou era vermelho.
Preto ou era holandes ou búfalo...
Holandes Sentado era rídiculo até mesmo para o Pelé. Na Holanda só tinha alemão...
E assim teve início a aventura.
Búfalo Sentado, havia atacado as mocinhas que moravam na rua e roubado delas, cinco pedaços de tijolo furado que eram as moedas e fugiu para o campo.
As mocinhas, as três meninas da vila que nos achavam o máximo, pois morávamos na cidade, desempenharam seus papéis com muita alegria e gritos para chamarem a nossa atenção.
Fomos lá e ficamos conversando, afinal queríamos conhecer as gurias...
E o Pelé, alías, Búfalo Sentado, corria pela rua rumo ao campo e o mato próximo.
Lá saímos nós, depois de muita conversa atrás do malvado. Os heróis, atrás do índio bandido.
Pelé, gordo como era correu pouco e logo se escondeu atrás de uma árvore e ali ficou quieto, que nem criança cagada. Cansado, acabou pegando no sono.
Chegamos de mansinho e com nossas cordas, amarramos o Pelé na árvore. Bem amarrado.
Vendanos os olhos e colocamos uma mordaça!
E ficamos sentado olhando, para ver o que fazer?
Foi quando vovó gritou!
Crianças, venham almoçar! Hoje tem batata frita!
Assim, saímos em desabalada corrida para casa.
Almoço, sestia, lanche do café, revistinhas de faroeste pare ler e o dia foi passando. Ainda mais que as gurias estavam na frente de casa convesando com nossa irmã.
E as horas correndo...
A tardinha batem na porta! Seu Jorge!
Pergunta assustado se tinhamos visto o Pelé!
Estava preocupado, afinal disse ele. Aquele gordinho não perde uma refeição e até agora não apareceu...
Achei que ele estava aqui! disse seu Jorge para vovó.
Foi quando nos lembramos.... Putz ! Deixamos o Pelé amarrado na árvore!
Tentamos explicar, e acabamos saindo correndo para o campo...
Lá fomos nós correndo, vovó e seu Jorge corriam atrás.
Chegando lá. Que cena!
Pelé estava todo cagado, mas, continuava amarrado na árvore.
Soltamos o Pelé que foi embora chorando e fedendo com seu Jorge para casa.
Vovó, nos falava furiosa do nosso comportamento, dizendo que iria contar para mamãe e papai quando voltassem da viagem.
Quando!
Um grito!
Era o Pelé.
Pessoal, amanhã quem fica amarrado na árvore é outro....