sexta-feira, 20 de junho de 2008

Pequena história acidentada...

Tinha lá eu, cerca de 10 ou 11 anos, quando tive minha primeira experiência de racismo.
Papai e mamãe foram viajar, e nós fomos ficar na vila com vovó.
Todos faceiros com revolveres de metal e cinturões de plástico, fomos para a vila brincar de mocinho e bandido.
Montados em nossos cavalos puro sangue de cabo de vassoura, troteando pela rua, logo avistamos um grupo.
Um menino e três meninas, nos olhavam curiosos.
Na esquina, preto que nem tição estava Pelé.
Pelé era nosso vizinho e era metido a goleiro de futebol. Seu tio, Jorge era o goleiro do time da vila. Meio frangueiro, mas era o dono da bola e portanto, jogava na posição que queria. Queria ser goleiro!
Ficou goleiro!
Pelé nos viu faceiros e pediu para entrar na brincadeira!
Tivemos que deixar, pois afinal trazia com eles suas três amigas loiras e sardentas que moravam ao lado da sua casa, e que todos dos dias espiávamos nas frestas da cerca de bambu, brincando de boneca.
Éramos quatro. Roy Rogers, Tim Dale, Zorro e Tonto. Todos heróis e o Pelé, seria o que?
Muita conversa jogada fora e Pelé foi escolhido como Búfalo Sentado! Bem, me explico. Preto tinha que ser Búfalo, afinal só conheciamos Touro Zebu que era branco ou era vermelho.
Preto ou era holandes ou búfalo...
Holandes Sentado era rídiculo até mesmo para o Pelé. Na Holanda só tinha alemão...
E assim teve início a aventura.
Búfalo Sentado, havia atacado as mocinhas que moravam na rua e roubado delas, cinco pedaços de tijolo furado que eram as moedas e fugiu para o campo.
As mocinhas, as três meninas da vila que nos achavam o máximo, pois morávamos na cidade, desempenharam seus papéis com muita alegria e gritos para chamarem a nossa atenção.
Fomos lá e ficamos conversando, afinal queríamos conhecer as gurias...
E o Pelé, alías, Búfalo Sentado, corria pela rua rumo ao campo e o mato próximo.
Lá saímos nós, depois de muita conversa atrás do malvado. Os heróis, atrás do índio bandido.
Pelé, gordo como era correu pouco e logo se escondeu atrás de uma árvore e ali ficou quieto, que nem criança cagada. Cansado, acabou pegando no sono.
Chegamos de mansinho e com nossas cordas, amarramos o Pelé na árvore. Bem amarrado.
Vendanos os olhos e colocamos uma mordaça!
E ficamos sentado olhando, para ver o que fazer?
Foi quando vovó gritou!
Crianças, venham almoçar! Hoje tem batata frita!
Assim, saímos em desabalada corrida para casa.
Almoço, sestia, lanche do café, revistinhas de faroeste pare ler e o dia foi passando. Ainda mais que as gurias estavam na frente de casa convesando com nossa irmã.
E as horas correndo...
A tardinha batem na porta! Seu Jorge!
Pergunta assustado se tinhamos visto o Pelé!
Estava preocupado, afinal disse ele. Aquele gordinho não perde uma refeição e até agora não apareceu...
Achei que ele estava aqui! disse seu Jorge para vovó.
Foi quando nos lembramos.... Putz ! Deixamos o Pelé amarrado na árvore!
Tentamos explicar, e acabamos saindo correndo para o campo...
Lá fomos nós correndo, vovó e seu Jorge corriam atrás.
Chegando lá. Que cena!
Pelé estava todo cagado, mas, continuava amarrado na árvore.
Soltamos o Pelé que foi embora chorando e fedendo com seu Jorge para casa.
Vovó, nos falava furiosa do nosso comportamento, dizendo que iria contar para mamãe e papai quando voltassem da viagem.
Quando!
Um grito!
Era o Pelé.
Pessoal, amanhã quem fica amarrado na árvore é outro....

Um comentário:

Douglas Saraiva disse...

Pobre Pelé!

Muito boa história